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Opinião
A educação financeira transforma a vida das mulheres pobres
Oficinas de Educação Financeira para mulheres do Programa Bolsa Família corroboram para o aumento da qualidade de vida
Redação - redacao@pinegocios.com.br
Com o intuito de analisar a relação entre educação financeira e o comportamento das mulheres assistidas pelo Programa Bolsa Família, as pesquisadoras Cláudia Forte e Fernanda Rocha realizaram um estudo em 49 municípios brasileiros, com a participação de 3.860 mulheres durante três anos. Motivadas pelo documento da Declaração do Desenvolvimento do Milênio da ONU, de 2000, e do seu desdobramento, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que propunha incentivar o alinhamento multissetorial para acabar com pobreza, alcançar a igualdade de gênero, assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis, dentre outros, elas tinham a frente o desafio de colaborar para a melhoria da situação de um dos segmentos de baixa renda mais vulneráveis da sociedade, partindo da hipótese de que a ausência do processo de tomada de decisões financeiras conscientes leva a um planejamento orçamentário deficiente, baixos níveis de poupança e superendividamento.
Nesse sentido, construíram um projeto com o fim de desenvolver competências e habilidades para que as participantes pudessem gerenciar com eficiência o orçamento familiar, promover realizações, estimulando a autonomia financeira através da mudança no mindset, aperfeiçoando o processo de tomada de decisão individual e impactando positivamente no seu entorno familiar. Uma série de trabalhos foi desenvolvido para tornar possível o estudo, que culminou na criação de vinte “tecnologias sociais”, com cooperação de beneficiárias de todo o país, em busca de entender a realidade da família de cada uma delas. Estas tecnologias incluíram diversas ferramentas auxiliares para a realização das oficinas: guia do instrutor, guia dos cofrinhos, trilha do dinheiro, envelope, cofrinho dos objetivos da família, cofrinho ajuda da família, cofrinho emergências, guia da agenda, calculadora, lápis e borracha, guia da carteira, cartazes, agenda, carteira, caderneta “de onde o meu dinheiro vem” e “para onde o meu dinheiro vai”. O efeito desses cursos sobre a educação financeira logo foi comprovado por meio dos indicadores analisados, cujos principais foram:
Indicador |
Antes das oficinas |
Depois das oficinas |
Financiamento das últimas emergências com recursos próprios (últimos 3 meses) |
61% |
69% |
Possui poupança ou reserva de dinheiro (últimos 3 meses) |
23% |
38% |
Conseguiu poupar (últimos 3 meses) |
24% |
48% |
Quanto, em reais, elas conseguiram poupar nos últimos 3 meses, em média |
R$ 47,00 |
R$ 116,30 |
Quanto, em reais, elas tinham de reserva de dinheiro em casa nos últimos 3 meses, em média |
R$ 12,40 |
R$ 37,10 |
Elaboração própria – dados artigo “Programa de Educação Financeira Para Mulheres Beneficiárias do Programa Bolsa Família” de Forte e Rocha (2017)
De acordo com a pesquisa, o tópico educação financeira é, sem dúvidas, um assunto difícil, sobretudo quando é ministrado para população adulta, a qual subestima o potencial crescimento implícito no aprimoramento desta habilidade, assim como ainda considera um tabu falar sobre a vida financeira. Deste modo, o exercício mostrou que a matéria constitui objeto de complexo entendimento e com maior exigência e organização para o alcance das metas. Ficou evidente a distância entre o que as mulheres consideram importante e o seu comportamento cotidiano, as quais, reconhecem a relevância de poupar para se proteger de imprevistos, mas as urgências diárias as absorvem e a formação de reservas se torna complicada. Revelou adicionalmente que as pessoas que conseguem reconhecer e verbalizar seus sonhos têm maior motivação para gestão e planejamento de seus recursos em relação àquelas que acreditam que não possuem ambições ou vislumbres em sua vida. Além disso, a medida em que a mulher está em movimento, buscando atingir seus objetivos individuais, menos dificuldade para tomar decisões financeiras conscientes e responsáveis ela tem, pois há indícios de que a falta de instrução e informação incorre em dificuldades de organização do plano de vida.
Sabendo disso, é notório que a matéria deve ser tratada transversalmente, em todas as classes de renda e faixas etárias, pois tem impacto direto na vida de todas as pessoas. Ademais, pode ser reforçada por políticas públicas com o intuito de levar este conhecimento para as parcelas mais frágeis da população. Por fim, é preciso propagar a ideia de que uma vida saudável é alcançada por quem sabe, entre outras habilidades, administrar o dinheiro, priorizando o que é essencial e planejando aquisições que proporcionem a satisfação. A educação financeira não é uma "maneira de ganhar dinheiro" – é importante que fique claro isso – e sim de aprender a administrar os próprios recursos. Fazer um planejamento financeiro exige muita dedicação, habitualidade, paciência e disciplina, mas os resultados valem valer a pena.
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Fonte: Elinne Val - economista