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Cartão de crédito é o meio mais utilizado por microempresas do Piauí para financiamento
Apesar dos juros altos, facilidade faz com que empreendedor busque essa solução para investir no próprio negócio
Emelly Caroline Alves - redacao@pinegocios.com.br
O cenário para a obtenção de crédito junto às instituições financeiras tem levado as microempresas do Piauí a buscar alternativas para financiar seus empreendimentos. De acordo com a 10ª edição da pesquisa “Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil 2023” realizada pelo Sebrae, o cartão de crédito foi a modalidade mais citada por 40% dos empreendedores entrevistados no estado.
O estudo revela que 31% das microempresas piauienses buscaram financiamento nos últimos seis meses, uma porcentagem superior à média nacional de 16%. Dessas solicitações, 54% foram negadas pelas instituições financeiras.
De acordo com o economista Márcio Braz, o crescente aumento no número de pessoas que usam o cartão como principal forma de financiamento é decorrente da maior facilidade que este oferece, tendo em vista a dificuldade enfrentada pelos microempreendedores em relação ao acesso ao crédito bancário.
“A categoria de microempreendedores e microempresas têm muita dificuldade de obter crédito. O sistema de crédito nacional é exigente e a burocracia é excessiva. Existe bastante rigor nas análises”, destaca.
Além disso, a falta de organização dos documentos fiscais das microempresas também é um problema para a obtenção de crédito. “Durante a pandemia, por exemplo, criamos uma forma de dar suporte aos empreendedores. Mas, a maior parte não tinha acesso às linhas de créditos oferecidas pelo próprio governo, porque eles não tinham os documentos fiscais e contábeis organizados. Então, essa é uma das dificuldades”, aponta o economista. .
Embora o financiamento por meio do cartão de crédito seja mais fácil e ágil, Márcio Braz alerta que é preciso ter cuidado com essa modalidade, levando em consideração as altas taxas de juros. “Temos que trabalhar com uma taxa de juros adequada ao negócio. No cartão de crédito nós temos uma taxa anual de 300% ao ano, enquanto existem financiamentos em bancos oficiais com taxas de 18% ao ano. Para evitar gerar uma bola de neve, é preciso sair dessas fontes de financiamento que praticam juros abusivos e recorrer a linhas empresariais, que possuem juros interessantes para quem é empresário”, explica o economista.
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Conforme a pesquisa do Sebrae, o financiamento por meio de fornecedores a prazo ficou em segundo lugar entre as modalidades mais utilizadas pelas microempresas no Piauí, em que 20% dos entrevistados optou por essa opção. Em terceiro lugar, o estudo menciona o cheque especial, dinheiro de amigos e parentes e empréstimos em bancos privados, todos com a mesma porcentagem (7%). Os empréstimos em bancos oficiais foram mencionados por apenas 4% dos entrevistados.
Para o economista Márcio Braz, a solução está na cooperação dos órgãos e entidades voltadas ao empreendedorismo. “É preciso haver um esforço tanto por parte do poder público quanto dos órgãos de desenvolvimento, para que assim os microempreendedores possam se organizar contábil e fiscalmente”, disse.
O estudo também oferece informações sobre os motivos pelos quais os pequenos negócios no Piauí buscaram empréstimos. A maioria (36%) utilizou o financiamento para garantir capital de giro ou adquirir mercadorias destinadas à revenda. Além disso, 31% dos entrevistados mencionaram que a expansão ou melhoria de seus negócios era o propósito do empréstimo, enquanto 27% buscaram recursos para a aquisição de máquinas e equipamentos.
A pesquisa “Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil 2023” coletou, em todo o país, 6.237 entrevistas por telefone no período de 01 a 30 de junho de 2023. No Piauí foram 223 entrevistados, entre Microempreendedores Individuais (MEI) e donos de micro e pequenas empresas.
“Por esse estudo, vemos que o acesso ao crédito junto às instituições financeiras ainda é uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos pequenos negócios”, pontua o diretor superintendente do Sebrae no Piauí, Júlio César Filho.
Falta de gestão financeira está ligada a aumento de solicitação de empréstimos, diz Femicro
Em entrevista ao Piauí Negócios, a presidente da Federação das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte do Piauí (Femicro-PI), Rita Nascimento, comenta que o alto índice de microempreendedores que solicitam empréstimos pode estar atrelado à gestão financeira. A falta de planejamento na utilização do capital de giro é um dos principais desafios.
“O problema que enfrentamos é que muitos microempreendedores não compreendem completamente o custo associado ao dinheiro, seja por meio de empréstimos bancários, cartões de crédito ou cheque especial. Muitos deles não planejam adequadamente como usar esses recursos e acabam se endividando desnecessariamente”, ”, afirma Rita Nascimento.
A presidente da Femicro ressalta que muitos gestores de pequenos negócios não utilizam ferramentas como o fluxo de caixa, que é essencial para prever e planejar as finanças a curto e longo prazo. Além disso, ter um estoque excessivamente grande pode resultar em dinheiro parado e altos custos. “Os empreendedores precisam ter noções básicas de planejamento. Pois é através desse plano que ele deve realizar suas aplicações de recursos. Nós brasileiros temos a tendência de agir sem planejamento adequado, o que pode ser prejudicial. Às vezes o problema não é o capital de giro, mas a forma como as compras e estoques estão sendo gerenciadas”, reforça.
Em meio aos problemas de endividamento dos microempreendedores, a Confederação Nacional das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Comicro) vem solicitando, junto ao Governo Federal, a criação do Desenrola CNPJ, a fim de isentar multas e juros de microempresas. “Estamos analisando junto ao governo a possibilidade de tornar esses microempreendedores que estão endividados adimplentes novamente”, acrescenta Rita Nascimento.
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